sexta-feira, 8 de abril de 2016

Coluna do Léo

Quando a idade conta?

Léo Salgado

Conheço uma pessoa que há muitos anos atrás tinha um grande sonho e um ideal de se tornar advogado e poder contribuir para fazer deste País um lugar mais justo para se viver.
Ele tinha uma vida bastante tranquila, morava em uma bela casa nas proximidades da lagoa Rodrigo de Freitas, estudava em um dos melhores colégios do Rio, seu pai tinha um ótimo emprego em nível de Diretoria de um conglomerado industrial, enfim uma vida bastante confortável.
De repente tudo mudou uma tragédia familiar de abateu, uma falência fulminou a tranquilidade de todos e ele soube que teria que mudar inúmeros hábitos de vida, inclusive saindo do colégio onde estudava desde o primeiro ano primário (é naquela época ainda existia primário).
Ele entendeu todas as dificuldades, mas sair do colégio seria uma perda muito grande. Por isso pediu para falar com o Diretor do Colégio, homem temido por muitos, mas antes de tudo um grande ser humano.
Conseguiu ser atendido no mesmo dia que pediu a secretaria da escola para falar com o Diretor. Contou a ele o que estava ocorrendo e disse que faria qualquer coisa para poder continuar na escola.
O Diretor mandou chamar os pais dele na escola e depois de dar um “bronca” dizendo que eles tinham que ter procurado ele para contar os problemas, concedeu uma bolsa da própria escola de 100% até a formatura e contratou aquele cara para trabalhar na escola, recendo um salario por seu trabalho.
Chegou à época do vestibular e ele conseguiu passar, batalhou uma bolsa na faculdade e conseguiu. Ficou na escola ainda por mais um ano, até que conseguiu um estagio de direito e foi liberado por aquele Diretor fora de série.
Do segundo ano de Direito em diante já estagiava e por indicação de um professor de Direito do trabalho foi contratado como estagiário de uma dos maiores escritórios de advocacia do Rio de Janeiro.
Com 10 anos de advocacia constatou que seu sonho e ideal era apenas um sonho, decepcionou-se da advocacia e aceitou um desafio de mudar de carreira.
Caiu de paraquedas já como gerente de RH em três empresas de um grupo empresarial mineiro e começou a aprender RH fazendo.
Fez muita coisa, realizou inúmeros projetos inimagináveis na época, inventou-se e reinventou-se ao correr dos anos, escreveu e escreve livros de RH, foi e mantem-se quase como uma referencia em gestão de RH no Rio de Janeiro.
Inventou, criou e desenvolveu com um sócio e amigo um projeto de disseminação de conhecimentos, experiências e conceitos de RH que já dura 9 anos e é reconhecido como um dos mais importantes fóruns de discussão de RH do Rio de Janeiro.
Há seis anos deu mais uma guinada de carreira e aceitou o desafio de criar e desenvolver um RH estratégico dentro de uma entidade governamental, com todas as limitações e dificuldades impostas pela burocracia, diversas leis de carreira, requisitos para concursos, elaboração de editais e um sem numero de outras coisas novas.
Encarou o desafio e conseguiu implantar uma área reconhecida dentro da instituição e inclusive fora dela, em razão de palestras realizadas em congressos e seminários sobre o “case”.
Depois de toda esta trajetória esse cara se viu pensando no amanhã, até porque com seus poucos 63 anos, acorda todos os dias às 05 horas, sai para trabalhar as 7, trabalha ate as 18:00 horas e ainda tem tempo de chegar em casa, brincar com sua filha de 9 anos, estudar com ela as matérias que na divisão familiar são as dele (história, ciências e geografia), praticar seu principal hobby que é cozinhar e atualizar-se profissionalmente.
No que ele começou a pensar no amanhã, deparou-se pensando em atividades que nada tem com aquilo que se tornou a paixão da sua vida e sua razão de ser, ou seja, cuidar e desenvolver pessoas e organizações.
Por que isso, simplesmente porque o mercado passou a olhar os dinossauros como seres em extinção que não tem futuro.
Ora, se é importante investir em pessoas jovens e com potencial, e ele concorda com isso até porque um dia alguém acreditou em seu potencial e perfil, não é possível que essas pessoas cheias de conhecimento, experiências e exemplos sejam simplesmente descartadas.
Por que não começar a abrir espaços nas organizações para profissionais que possam atuar como consultores de gerencias e diretorias mais jovens, por que fechar o mercado de trabalho de tal forma, condenando aqueles que cometeram o crime da idade a “morrer” da aposentadoria.
Este artigo não quer ser o ponto final de nenhuma discussão, quer simplesmente ser um ponto de reflexão, uma pequena semente de uma ideia nascida de uma fria constatação.
E, para aqueles que ainda não ligaram o cara a pessoa....

- Esse cara sou eu!