Quando a idade conta?
Léo Salgado
Conheço uma pessoa que há
muitos anos atrás tinha um grande sonho e um ideal de se tornar advogado e
poder contribuir para fazer deste País um lugar mais justo para se viver.
Ele tinha uma vida bastante
tranquila, morava em uma bela casa nas proximidades da lagoa Rodrigo de
Freitas, estudava em um dos melhores colégios do Rio, seu pai tinha um ótimo emprego
em nível de Diretoria de um conglomerado industrial, enfim uma vida bastante
confortável.
De repente tudo mudou uma
tragédia familiar de abateu, uma falência fulminou a tranquilidade de todos e
ele soube que teria que mudar inúmeros hábitos de vida, inclusive saindo do
colégio onde estudava desde o primeiro ano primário (é naquela época ainda
existia primário).
Ele entendeu todas as
dificuldades, mas sair do colégio seria uma perda muito grande. Por isso pediu
para falar com o Diretor do Colégio, homem temido por muitos, mas antes de tudo
um grande ser humano.
Conseguiu ser atendido no
mesmo dia que pediu a secretaria da escola para falar com o Diretor. Contou a
ele o que estava ocorrendo e disse que faria qualquer coisa para poder
continuar na escola.
O Diretor mandou chamar os
pais dele na escola e depois de dar um “bronca” dizendo que eles tinham que ter
procurado ele para contar os problemas, concedeu uma bolsa da própria escola de
100% até a formatura e contratou aquele cara para trabalhar na escola, recendo
um salario por seu trabalho.
Chegou à época do vestibular
e ele conseguiu passar, batalhou uma bolsa na faculdade e conseguiu. Ficou na
escola ainda por mais um ano, até que conseguiu um estagio de direito e foi liberado
por aquele Diretor fora de série.
Do segundo ano de Direito em
diante já estagiava e por indicação de um professor de Direito do trabalho foi
contratado como estagiário de uma dos maiores escritórios de advocacia do Rio
de Janeiro.
Com 10 anos de advocacia
constatou que seu sonho e ideal era apenas um sonho, decepcionou-se da
advocacia e aceitou um desafio de mudar de carreira.
Caiu de paraquedas já como
gerente de RH em três empresas de um grupo empresarial mineiro e começou a
aprender RH fazendo.
Fez muita coisa, realizou inúmeros
projetos inimagináveis na época, inventou-se e reinventou-se ao correr dos
anos, escreveu e escreve livros de RH, foi e mantem-se quase como uma
referencia em gestão de RH no Rio de Janeiro.
Inventou, criou e
desenvolveu com um sócio e amigo um projeto de disseminação de conhecimentos, experiências
e conceitos de RH que já dura 9 anos e é reconhecido como um dos mais
importantes fóruns de discussão de RH do Rio de Janeiro.
Há seis anos deu mais uma
guinada de carreira e aceitou o desafio de criar e desenvolver um RH
estratégico dentro de uma entidade governamental, com todas as limitações e
dificuldades impostas pela burocracia, diversas leis de carreira, requisitos
para concursos, elaboração de editais e um sem numero de outras coisas novas.
Encarou o desafio e
conseguiu implantar uma área reconhecida dentro da instituição e inclusive fora
dela, em razão de palestras realizadas em congressos e seminários sobre o “case”.
Depois de toda esta
trajetória esse cara se viu pensando no amanhã, até porque com seus poucos 63
anos, acorda todos os dias às 05 horas, sai para trabalhar as 7, trabalha ate
as 18:00 horas e ainda tem tempo de chegar em casa, brincar com sua filha de 9
anos, estudar com ela as matérias que na divisão familiar são as dele
(história, ciências e geografia), praticar seu principal hobby que é cozinhar e
atualizar-se profissionalmente.
No que ele começou a pensar
no amanhã, deparou-se pensando em atividades que nada tem com aquilo que se
tornou a paixão da sua vida e sua razão de ser, ou seja, cuidar e desenvolver
pessoas e organizações.
Por que isso, simplesmente
porque o mercado passou a olhar os dinossauros como seres em extinção que não
tem futuro.
Ora, se é importante
investir em pessoas jovens e com potencial, e ele concorda com isso até porque
um dia alguém acreditou em seu potencial e perfil, não é possível que essas
pessoas cheias de conhecimento, experiências e exemplos sejam simplesmente
descartadas.
Por que não começar a abrir
espaços nas organizações para profissionais que possam atuar como consultores
de gerencias e diretorias mais jovens, por que fechar o mercado de trabalho de
tal forma, condenando aqueles que cometeram o crime da idade a “morrer” da
aposentadoria.
Este artigo não quer ser o
ponto final de nenhuma discussão, quer simplesmente ser um ponto de reflexão,
uma pequena semente de uma ideia nascida de uma fria constatação.
E, para aqueles que ainda
não ligaram o cara a pessoa....
- Esse cara sou eu!