domingo, 18 de outubro de 2009

Coluna do Léo



O Novo Emprego neste nosso Novo Mundo (Parte 1)

Léo Salgado

O artigo que estou postando hoje é o primeiro de uma série, na qual pretendo tratar de uma forma um pouco mais estruturada o que entendo que vai acontecer na relação Capital x Trabalho, que chamo do “Novo Emprego”.

Dizer hoje que estamos em um Mundo instável é chover no molhado, uma vez que ele é tão instável como todos os tempos em que se viveram revoluções, uma vez que esse é o papel delas: transformar tudo, gerando uma incrível instabilidade que chega aos limites do caos e a partir daí reorganizar e reestruturar a sociedade.

Nada consegue sobreviver muito tempo, nesta sociedade contemporânea, do emprego ao casamento encontramos estatísticas que comprovam a volatilidade destas instituições. Na mesma linha, as empresas também precisam mudar e adaptar-se todo o tempo, sob pena de sucumbirem e fecharem.

A título de exemplo, existe um estudo do Consultor Richard Foster, da McKinsey, que acompanhou cerca de 208 empresas durante 18 anos e concluiu que apenas 3 se mantiveram funcionando neste tempo, enquanto que metade não conseguiu sobreviver por mais de 2 anos. Nas empresas “ponto com” o ciclo de vida é menor ainda.

Neste admirável Mundo Novo a sobrevivência de uma empresa, nos moldes da sua criação, não mais faz parte de sua estratégia de futuro. A empresa sobreviverá como um ser mutante e adaptável às realidades que o mercado apresentar e se desenvolverá no ritmo e velocidade que se fizer necessária, ou seja, a adaptabilidade e a flexibilidade passaram a ser características básicas para o futuro de uma empresa, tanto como o são para o futuro dos empregados.

O horizonte estratégico dos executivos passou a ser de um ou dois anos, ao invés dos oito a dez da década passada.

A instabilidade por que passa o Mundo, transformou de forma evidente e clara o ambiente corporativo das empresas, trazendo para dentro dela as características deste Novo Mundo, onde predominam as premissas básicas de: competitividade; globalização sem fronteiras; volatilidade; acesso direto; especialização e multiplicidade.

Ante a impossibilidade de prever corretamente todas transformações que iremos sofrer nos próximos anos, só nos resta a certeza de que existe uma nova forma de riqueza que irá se impor ante a qualquer mudança. Essa riqueza nada mais é do que o conhecimento e a inteligência.

Essa característica fica clara ao observarmos o crescimento do que chamamos de empresas pobres de bens e ricas de cérebros. As empresas chamadas “ponto com” são um exemplo claro disso. Empresas que não detém grandes ativos patrimoniais, mas que, em contrapartida possuem um capital intelectual fantástico, que fazem delas cases de sucesso nas bolsas do mundo todo.

Assim, é fácil entender essa nova ordem, pela qual o capital é cada vez mais capital intelectual, capital de relacionamento, capital de marca, capital da informação, da mesma forma que “trabalho” é cada vez mais a capacidade de gerar e gerir idéias.

Dessa forma, em razão do Novo Mundo que vivemos, todo o mundo corporativo tem que ser reinventado e reorganizado. Tudo o que você faz agora, não importa o que seja, deverá ser modificado e com certeza vai sofrer mudanças profundas, uma vez que esse Novo Mundo terá uma nova lógica e uma nova perspectiva corporativa.

A maioria absoluta dos que estudam essa nova era, acredita que as mudanças serão profundas e radicais, de tal forma que já toma corpo palpável chamar-se esse Novo Mundo de sociedade pós-industrial.

Existem pensadores, tais como Jeremy Rifkin, autor do livro O Fim do Trabalho (Makron Books), de 1995, que prevê uma era de desemprego.

Na verdade a maior parte dos analistas não acredita neste radicalismo. Com certeza a relação de emprego vai mudar, a migração deste sistema arcaico de emprego com direitos, deveres e obrigações, regulamentados através de velhas Leis, com regulações tacanhas e obturadas, próprias de uma sociedade patriarcal e regulamentadora, que tirava do ser humano o livre arbítrio, consubstanciada e valida num momento em que as empresas ainda se mantinham como organizações apegadas em tempos e métodos, tem e vai sofrer alterações radicais e substanciais, até porque a sociedade mudou, o mundo mudou e as empresas estão mudando.

O mundo a cada dia que passa torna-se cada vez mais imaterial, conhecimento cada vez mais é um produto, e em um mundo em que conhecimento é produto, a relação produção / consumo é radicalmente alterada. Na verdade inverte-se a estrutura do antigo consumiu / gastou, para uma nova verdade, que é o de que cada vez que se dá mais conhecimento, mais se cria, ou seja a relação agora é consumiu / criou ( quanto mais se gasta mais se tem ).

O que se depreende então é que com essa nova realidade a atividade do ser humano está mudando, as necessidades de adaptabilidade e flexibilidade estão fazendo surgir novas atividades laborais que levarão a novas formas de trabalho, desmistificando a teoria do fim do emprego. O emprego não vai acabar, muito pelo contrario, ele vai crescer, mas para tanto ele vai mudar, transformar-se e transmutar-se de forma a adaptar-se a esse novo mundo, o mundo do conhecimento.

O grande problema dessa mudança é na verdade um problema muito antigo e já vivido em outras eras pela humanidade. Quando existe uma substituição da empresa velha pela empresa nova, gera-se um grande numero de desempregados, por que a nova empresa difere radicalmente da anterior, seja em produto final, seja em sistema operacional, ou até em cultura e forma de ser.

Se o empregado da empresa velha não se reciclou, não se adaptou às transformações do mercado, com certeza não conseguiu um lugar na empresa nova. Ou seja, o choque cultural que faz acontecer uma mudança na estrutura cultural da empresa, nunca é acompanhado passo a passo pelo ser humano em sua totalidade, assim, até que ele se recicle e se reprograme, vai engrossar as estatísticas, e os teóricos de superfície dirão que os empregos não mais existem.

Assim em épocas de grandes mudanças e transformações, como a que estamos vivendo e vivenciando, essa falta de sincronia produz esse cruel desencontro de milhares de pessoas procurando um emprego e de inúmeras empresas com vagas que não conseguem ocupar.

O que o Novo Mundo ensina e a Nova Empresa precisa entender e vem a cada dia entendendo mais é que em épocas de crise é fundamental cuidar de seus ativos, bem como, que os ativos mudaram, que o bem maior de uma empresa na Nova Economia é a inteligência, não que seja novidade, mas que agora sim, pela primeira vez as empresas passaram a entender e acreditar que a mente humana é uma força direta de produção e não mais um elemento dessa força.

Essa mudança de mentalidade é a grande mudança do mundo e das empresas, a chave da Nova Empresa é pensar nos seus empregados como o seu capital, sua fonte de negócios, seu núcleo de ação.

A nova empresa trabalha 100% de seu tempo a motivação de seu capital intelectual, gerando via de regra alguns modelos básicos de atuação, que podem ser resumidos nos seguintes:

  • A empresa ajuda as pessoas a acreditarem na importância de seu trabalho;
  • A empresa enfatiza primordialmente os resultados, e não os procedimentos;
  • A empresa deve demonstrar ao empregado que seu trabalho ajuda a aumentar sua capacidade, competência e reputação;
  • A empresa deve demonstrar que é justa quando recompensa os resultados alcançados;

Desta forma neste Novo Mundo existem algumas características básicas e primordiais que passam a ser cobradas daqueles que devem ser a chave dos negócios, ou seja dos Novos Empregados, que devem conseguir fazer coexistir dentro de si os dois lados da tabela que se segue:

Características Básicas

Características Primordiais

Pensar a longo prazo

Mostrar resultados imediatos

Capacidade de inovação

Grande eficiência

Pensar globalmente

Responsabilidades locais

Capacidade de colaboração

Grande competitividade

Crescimento dos negócios

Excelente desempenho

Trabalhar em equipe

Responsabilidade individual

Alta flexibilidade

Seguidor dos padrões

Apesar dessa tabela representar um paradoxo, a vida moderna é uma sucessão de paradoxos, e para lidar com eles só existe uma formula, que é a de assumi-los, ou seja entenda que um paradoxo não é uma contradição, na verdade em um nível superior ambos os termos de um paradoxo são verdadeiros, assim procure esse nível superior, tal qual a nova empresa vem procurando buscar e entenda que paradoxos e contradições são elementos básicos da natureza humana.