sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Coluna do Léo


O Novo Emprego neste nosso Novo Mundo – Parte 2
A Nova Empresa

(Como a nova economia está influindo na economia tradicional e quais os novos atributos da empresa do século 21)
Léo Salgado



Nada mais natural para saber se uma empresa é viável ou não, do que se pesquisar se o produto ou serviço que ela vai oferecer tem mercado, ou seja, que os consumidores como um todo terão interesse em adquirir aquele produto.
Se a resposta for positiva, você deve verificar se a capacidade de produção está adequada ao tamanho do mercado e as possibilidades de venda, se vai ser possível promover atualizações, investimentos e derivações daquele produto, de forma a tornar a empresa atrativa para investidores e uma outra gama de atributos, cada vez mais sofisticados a cada ponto que você ultrapassa.
Mas, em ultima analise a grande pergunta diz respeito ao mercado, se ele existe e suas possíveis alterações.
Tradicionalmente as mudanças no mercado demoravam a acontecer, as empresas podiam pesquisar e trabalhar com tempo, para definir estratégias e nichos de mercado a atacar e desenvolver.
Muitas são as histórias de empresas que surgiram com um tipo de foco e aos poucos foram se alterando, mudando e desenvolvendo outras aptidões, e hoje são reconhecidamente gigantes em áreas que nem podiam pensar que um dia iriam atuar.
Um dos grandes exemplos é a Nokia que em pouco mais de 20 anos deixou de ser uma produtora de papel para ser a maior empresa de telefones celulares da Europa.
Essa realidade e necessidade de mudar e adaptar-se ao mercado ao longo do tempo sempre existiu e fez parte da essência das empresas.
Ocorre que agora, em plena Revolução da Informação estas mudança passaram a ser necessárias em uma velocidade jamais experimentada.
A necessidade de adaptar-se passou a ser “on time”, em tempo real, ou seja, do momento em que ela é constatada a sua efetiva mudança o tempo passa a ser imediato. Mudanças que demoravam 20 a 30 anos para serem efetivadas, necessitam o ser em 1 ou 2 anos, se tanto.
A nova empresa necessita ter uma série de atributos que podem ser resumidos em: alta capacidade de adaptação; alto grau de virtualidade; perfeita conectividade; alta velocidade; consciência; capacidade de emocionar e emocionar-se; e, alta capacidade de inovar, criar e inventar.
A alta capacidade de adaptação pode ser resumida na plena absorção das necessidades de mercado e na agilidade e aculturação necessária a adaptação dos negócios da empresa às novas exigências do mercado.
Para se conseguir essa capacidade é fundamental desenvolver padrões de planejamento heterodoxos, através dos quais se pode criar cenários de futuro e trabalhar onde, como e quando mudar.
Todos nós sabemos que o bom planejamento se utiliza de idéias discordantes sobre o futuro para chegar a uma estratégia. Hoje exige-se muito mais, é necessário uma mescla de poderosos bancos de dados, simuladores, idéias e pensamentos dispares (com a participação do maior numero possível de colaboradores, parceiros e analistas), e, velocidade decisória.
Um bom exemplo de capacidade de adaptação foram os supermercados, uma vez que sua atuação sempre seguiu uma verdade inabalável do varejo, que era o foco centrado. Mas as necessidades do mercado demonstraram que o consumidor não queria mais ter que procurar vários estabelecimentos de varejo para adquirir suas necessidades, o que transformou os antigos supermercados de alimentos e gêneros de primeira necessidade, em tempo recorde em estabelecimentos onde se pode adquirir : alimentos (In natura e prontos por produção própria ou não), móveis, roupas, eletrodomésticos, artigos de informática, papelaria, pneus, ferramentas, bebidas finas, combustível, óleos e até serviços.
A nova empresa tem que ter essa capacidade de adaptação, sem ela não conseguirá sobreviver, uma vez que a velocidade e a instabilidade do Novo Mundo, vai exigir cada vez das empresas.
Deve-se entender que até o conceito de planejamento tem que ser refeito, uma vez que a instabilidade é tanta que planejar passou a ser prever o maior numero de possibilidades. Essa nova conceituação demonstra claramente a vital importância das empresas terem uma alta capacidade de adaptação.
Quando falo em alto grau de virtualidade, é o mesmo que dizer que a chamada Nova Empresa, necessita ser o mais virtual possível, ou seja, estar cada vez menos limitada a espaços físicos, escritórios, estruturas organizacionais, hierarquias tradicionais e “funcionários” na estrita concepção do termo.
Importante ainda entender melhor o que é um funcionário, segundo o mestre Aurélio, é todo aquele que exerce uma função, especialmente pública, o que inexiste neste Novo Mundo, uma vez que funções estanques e fixas deixam de existir.
Ser virtual é viver em um mundo sem fronteiras e barreiras, no qual você envia um e-mail ou um notes a seu colega de trabalho e recebe a resposta instantaneamente, apesar de você estar no Brasil e ele nos Estados Unidos ou na Europa.
É processar um programa de gestão (SAP por exemplo) em um servidor localizado na Matriz da empresa, esteja ela neste ou em um outro continente.
É ser um empresa que atue cada vez mais intermediando, terceirizando e coordenando suas operações.
É ser como a Nike, que não tem uma fabrica, que não fabrica nenhum de seus itens, que apenas coordena a produção de fabricas terceirizadas, planeja a distribuição e faz muito bem feito todo o marketing (através é claro de parceiros).
É ser como a Cisco, a Dell Computadores, a Xerox (dos seus 11.000 funcionários 6.000 são de outras empresas) e milhares de outras grandes empresas que atuam de uma ou outra forma, cada vez mais virtualmente, quebrando barreiras de fronteiras, escritórios, etc.
Ser virtual não é apenas terceirizar e desagregar uma empresa em várias pequenas, é existir compartilhando e distribuindo tarefas produtivas até para os clientes (como uma fabrica de móveis que vende estantes do tipo faça você mesmo), é ser um empresa que não pensa apenas em dividir e distribuir seus ativos e sim que não tenha ativos, é ser uma empresa transparente, na qual tudo que é feito pode ser do conhecimento publico, esteja acessível aos consumidores on line e on time e que tenha seus dogmas claros para todos que se utilizam dela.
Uma empresa virtual não mais prega a política do pleno emprego (nem no Japão), não toma conta do empregado, mimando-o e cuidando de todos os seus interesses em troca de seu trabalho. Na realidade essa empresa torna claro que cada um de nós é o verdadeiro responsável por sua carreira, e que uma carreira é feita de várias experiências, empresas e realidades.
O nosso Novo Mundo é cada vez mais virtual (TV interativa, Internet, e-mail, e-Bussiness, e-comerce, e-learning, etc...), assim ser uma empresa virtual é conseqüência, como também o será ser um profissional virtual.
O que será ter uma perfeita conectividade? O conceito de conectividade iniciou-se com o Wal-Mart, que já adota o sistema de entrega direta nas lojas ou de simplesmente repassar a carga dos caminhões dos fornecedores para os que vão fazer a entrega nas lojas. Na verdade o Wal-Mart iniciou a revolução que é a migração da infra-estrutura para a extra-estrutura.
A integração das redes é um dos passos principais para a conectividade. Fazer pedidos de compra diretamente na rede do fornecedor é um outro exemplo bem atual, entre tantos que poderemos citar.
Caminhamos a passos largos para o fim da concorrência e a criação de um novo paradigma de mercado, no qual as alianças serão o principal negócio de todas as companhias neste novo milênio. A conectividade entre as empresas é uma realidade irreversível.
A alta velocidade está intimamente ligada ao futuro de uma empresa. Não existe mais tempo para maturar uma idéia de mudança por 5, 10 ou 20 anos, hoje as empresas que dispõem de tempo, tem no máximo 2 anos para formular uma idéia de negócio inovadora, sob pena de não o fazendo, descobrir que outro foi mais rápido e já domina aquele nicho de mercado que ela imaginou abocanhar.
A globalização, a alta tecnologia disponível, as mudanças freqüentes de expectativa dos atuais consumidores, estão começando a obrigar as empresas a reduzir o ciclo de desenvolvimento de novos produtos e a serem mais ágeis nas suas decisões de negócio.
Esta necessidade de rapidez criou um novo paradigma de desenvolvimento de produtos, uma vez que para acelerar o ciclo, eles tiveram que passar a ser feitos em equipe, simultaneamente e rapidamente, o que obriga aos profissionais de desenvolvimento a estarem preparados para trabalhar e equipe, com rapidez e conectados com o resto da empresa.
Novamente nos vemos frente a frente a conectividade, uma vez que rapidez e velocidade nos induzem a aprimorar a conectividade. A Wal-Mart é rápida por que é altamente conectada, ou ainda, é altamente conectada por que é rápida e veloz
Neste Novo Mundo onde o conhecimento é o principal e mais importante bem, a velocidade e a rapidez passam a ser componentes importantes para definir valor.
A consciência é o caráter necessário na Nova Empresa, uma vez que é esse caráter, essa consciência, que servirão de polo agregador das pessoas (em uma empresa virtual, adaptável, conectada e rápida), para que este conjunto se torne verdadeiramente uma empresa.
Uma empresa neste Novo Mundo tem que ter identidade, alma, vida. Ela precisa respirar e transmitir a todos os seus colaboradores, parceiros, fornecedores e clientes a sua alma, suas crenças, seus dogmas, suas necessidades e seus valores.
Internamente, no sentido figurado do termo, tanto os funcionários como a gestão precisam acreditar e viver a Missão, a Visão e os Valores do conjunto formado pelos empregados, grupos, unidades e empresas que compõem aquela organização.
Uma empresa consciente, que olha seu passado com orgulho e nele projeto seu futuro, na qual seus funcionários acreditam e professam seus dogmas e valores é uma empresa que pode ter a certeza de sua estabilidade, do ambiente motivacional permanente e da não necessidade de estabelecer regras rígidas de controle, uma vez que seus funcionários são na verdade parceiros do negócio, comprometidos com o resultado , uma vez que acreditam que ao atingir as metas da empresa estarão aptos a atingir suas metas pessoais.
A consciência empresarial com o estabelecimento do seu MVV não é uma novidade empresarial, mas agora passa a ser uma necessidade de sobrevivência, uma identidade indispensável para o futuro de uma organização. Ser uma empresa cidadã, estar certificada como tal, passa a ser mais importante na Nova Empresa do que uma certificação ISO, por exemplo.
A importância da consciência empresarial é um assunto tão vasto e apaixonante que faz parte da discussão teórica de vários autores e é objeto de inúmeros livros, tais como Making Democracy Work (Fazendo a Democracia Funcionar) de Robert Putnam, entre outros.
Intimamente ligada a consciência está a emoção. Na verdade a emoção é outro ingrediente indispensável na Nova Empresa, até porque em um mundo onde o relacionamento é parte integrante do produto, a emoção tem que ser um aspecto fundamental da empresa.
Durante minha experiência administrando os recursos humanos de uma importante cadeia de varejo, ouvi logo após o meu ingresso uma frase do Presidente da rede que muito marcou e em vários aspectos, orientou a forma de trabalhar os recursos humanos da empresa. A frase, dita em minha entrevista de ambientação com ele, foi a de que “o varejo é apaixonante, apesar de ser uma atividade que exige muita inspiração, muita transpiração e uma sobrecarga brutal de trabalho, ele é pura emoção. Varejo é tesão”.
A utilização da essência desta frase, passou a ser a chave de encerramento de inúmeras palestras e de reuniões que participei nas semanas de recrutamento do COPPEAD, todas com excelente Ibope de presença e números expressivos de alunos candidatando-se a posições de Bussiness Trainee que disponibilizávamos aquela altura.
Não há de se falar que o mundo digital impede a existência da emoção. Muito pelo contrario, existem formas de utiliza-la, bem como, formas de atingir a emoção.
Kotler cita que existe uma Cia. De seguros que só opera nos USA, que apesar de não ter nenhum contato físico com seus clientes, os emociona e os encanta com a alta tecnologia da emoção. Lá, cada vez que um cliente telefona, o atendente aciona um banco de dados e tem a oportunidade de perguntar como vai a sua esposa (chamando-a pelo nome ) ou ainda perguntando se a filha passou no vestibular.
Outro exemplo de emoção tecnológica pode ser dada por uma loja de produtos para animais chamada Mars Petffod da Alemanha, que tem um banco de dados com o nome de praticamente todos os donos de gatos no país e que manda cartões de aniversário para os gatos !
Finalmente a alta capacidade de inovar, criar e inventar, vem completar as características da Nova Empresa.
Na verdade esta é o que pode ser considerada a mais importante das características, é ela que faz a empresa ser uma empresa.
Quando uma empresa nasce ela tem uma proposta, um objetivo um norte, no desenvolvimento de sua atividade ocorrem mudanças provocadas por vários fatores, nestes momentos é necessário inovar, ou seja, recriar aquela proposta original adaptando-a as novas necessidades do mercado. Num mundo de mudanças constantes, de absoluta instabilidade, mais necessário se faz ter um perfil criativo, que origine as inovações, que possibilite colocar aquela empresa um passo a frente de seus concorrentes.
A analise a seguir, mostra claramente, como o intervalo de tempo entre a invenção e a inovação vem se reduzindo:

Tecnologia..............................Invenção......... Inovação.......... Intervalo (em anos)
Alto Forno.............................. 1713..................1796......................83
Bateria.................................... 1780.................1859......................79
Telégrafo.................................1793.................1833......................40
Lâmpada.................................1802.................1873.......................71
Aspirina...................................1853.................1898......................45
Rádio........................................1887..................1922.....................35
Radar.......................................1887..................1934.....................47
Televisão.................................1907..................1936.....................29
Penicilina.................................1922..................1941.....................19
Nylon.......................................1927..................1938.....................11
Transistor...............................1940..................1950....................10

Conforme podemos constatar o período decorrido entre o invento e a inovação introduzida no mercado vem sendo cada vez menor ao longo do tempo.
Inovar, criar e inventar no ambiente empresarial, sempre encontrou barreiras e restrições. Grandes inovações e invenções demoraram a ser consideradas realmente necessárias e úteis, por estarem a frente de seu tempo, ocasionando muitas vezes a descontinuidade daquela inovação. No Novo Mundo torna-se cada vez mais difícil estar a frente de seu tempo, uma vez que a necessidade de mudança, de inovação torna-se cada vez mais rápida e veloz, com uma forte influência de uma cada vez maior conectividade e virtualidade.